E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5L_44uU0ZHXJnnTx_7r72EIyzc0bDWWe6BIQzegEQ5Bb6iuqHxoHc_-4zhhlQ-jVPK_-QiXSVdEpo4-huhLvtkW392cWgrb-VwvgmgpcqaCdcchIgJaOM47ta8FG9qnsqEmp1VLHXAM3A/s400/tumblr_l7cz8oSg3h1qce1fpo1_400.jpg)
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
(...)
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
(...)
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
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